sexta-feira, 13 de maio de 2011

PRAÇA CASTELO BRANCO - EX-BENTO MUNHOZ - ROLÂNDIA-PR.

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA
(Foto da família Farina)
Lendo agora pouco a belíssima crônica do meu colega Horácio Negrão sobre a praça Castelo Branco e a Estátua do Roland, lembrei-me da minha infância em Rolândia no início dos anos 60. Não sou muito antigo não mas tenho na minha mente que a antiga praça Castelo Branco (ex-Bento Munhoz), antes da reforma, era um lugar encantado para mim. Minha mãe costumava levar eu e meus irmãos aos domingos para passear ali depois da matinê do Cine Rolândia. A   praça era o "point" de Rolândia. Como não existia ainda televisão a maior parte da população ficava passeando a pé no trajeto da igreja matriz até a citada praça. Os casados com suas esposas e filhos e os solteiros só na "paquera".  As pessoas colocavam suas melhores roupas. Era um verdadeiro desfile de moda. Lembro-me que minha mãe usando saia "plissada". Ela ficava linda e muito elegante vestindo-se assim. Eu e meus irmãos tínhamos terninhos com calças curtas e jaquetas. Modéstia à parte éramos crianças bonitas (até para os padrões de hoje). Ficamos feios com o passar do tempo....(risos). No centro da praça havia o famoso coreto conhecido como tartaruga. Ele era lindo e era a marca registrada do lugar. Se eu fosse o prefeito da época (Primo Lepri) jamais o teria desmanchado. Em cima do coreto havia uma grande corneta onde um "speak"  tocava músicas e mandava recados para os namorados. Não faltava pipoqueiros. Naquele tempo era chique comer pipoca na praça (risos). Lembro-me que entre os arranjos de flores e gramados haviam passarelas cobertas de pó de pedra. Conforme andávamos ouvíamos o barulho do atrito dos sapatos com as pedrinhas. Haviam muitos bancos de "marmorite" com a estampa dos patrocinadores. A antiga festa das nações era feita ali na Avenida Tiradentes e a  praça integrava o ambiente. No local havia um grande relógio que ainda pode ser visto ao lado da Estátua do Roland, só que na época funcionava. A Estátua do Roland estava fixada onde hoje temos o chafariz. As crianças amavam ficar olhando para ela e imaginado cenas de guerra e o guerreiro cortando as pessoas pela metade com aquela enorme espada (risos). Do lado da estátua depois de alguns anos colocaram um Televisor. A Tv ficava protegida com grade de ferro. Do lado a antena (e nunca houve furto). As 18 horas vinha um funcionário da prefeitura e ligava a Tv para o delírio da grande pláteia que comendo pipocas gritavam torcendo para os mocinhos do "Bonanza"...(risos). Na hora da novela só se via mulheres chorando com os diálogos de amor de João Coragem e Diana e enxugando as lágrimas. (risos). Do lado esquerdo, em frente a atual sorveteria, havia uma carreira de árvores "santas bárbaras". Hoje sobrou apenas uma delas....Embaixo destas "santas bárbaras" tinha um parquinho infantil. Lembro-me de um grande balanço e as crianças fazendo fila para brincar. A praça não era cortada no meio como agora. Ela pegava a quadra inteira. Quando o trem chegava na estação (ao lado da praça) a maioria corria para lá para ver quem chegou e quem ia embarcar. Era chique dar "tchau" para quem estava saindo de viagem (risos). Algum tempo depois no governo Primo Lepre a praça foi remodelada. Ela foi cortada no meio. Levaram o Roland lá para baixo (não sei porque - risos). Colocaram  pequenos tanques para peixes e um viveiro com alguns animais e pássaros. A sensação da nova praça, agora Castelo Branco, foram as luminárias siemens importadas da alemanha com seus super-postes com mais de 30 metros de altura. Para vocês terem uma idéia, estas lâmpadas clareavam até lá na casa dos meus pais (próximo ao campo do Nacional)...E não é mentira não (risos). Hoje, após a segunda remodelação, posso dizer que se não fosse o empenho dos ambientalistas tinha sobrado poucas árvores no local. Não existe praça sem árvores. Queriam cortar quase tudo. Tivemos que brigar muito. O  meu desejo agora é que a população descubra novamente o romantismo de passear na praça e levar as crianças para brincar. São lembranças que nunca serão esquecidas. Viva a praça!....Viva o verde!....JOSÉ CARLOS FARINA - ADVOGADO - ROLÂNDIA - PR.

CRÔNICAS DO HORÁCIO NEGRÃO

A PRIMEIRA VEZ QUE VI A ESTÁTUA “ROLAND”  -  (Rolândia-Pr.)

Por Horácio Negrão
 
A PRIMEIRA VEZ QUE VI A ESTÁTUA “ROLAND”

“A primeira impressão é a que fica”!

Não sei se a expressão popular tem algum fundamento científico, mas a meu ver, de fato, o contato inicial é marcante. Discordo, entretanto, que seja permanente. Não é incomum fazermos juízos errôneos ou preconceituosos baseados em informações supérfluas para depois, conhecendo a essência, mudarmos de opinião.
A impressão também muda na medida em que mudamos nossa visão de mundo.
Assim se dá em relação a pessoas, lugares e imagens.
Moro em Rolândia desde sempre. Nasci em imóvel residencial localizado na Avenida Expedicionário (onde hoje funciona a Gráfica Velox). Apesar de na época - ao contrário da escassez atual - Rolândia possuir cinco hospitais (São Judas Tadeu, São Lucas, São Paulo, Fundação Arthur Thomas e “Hospital do Dr. Alemão”), sem contar a “Casa de Saúde”, o parto normal foi acompanhado pelas mãos abençoadas da Cidadã Honorária dona Henriqueta Lalli.
Ainda em tenra idade, minha família mudou-se para a Avenida Interventor Manoel Ribas, em imóvel de propriedade da família Giordani (onde hoje mora o Gustavo Filho), onde ficamos até que eu completasse treze/quatorze anos. Faço este comentário para dizer que durante quase toda a minha infância (digo “quase” porquanto, com certa freqüência a ela retorno, de forma que não sei se já a deixei) habitei a área central de nossa cidade, logo, acompanhei suas transformações.
Recordo-me, por exemplo da Praça Castelo Branco, local de passeios dominicais e um dos primeiros a poder visitar sozinho, sem a companhia dos pais ou dos irmãos, mas com as recomendações da mãe para atravessar a rua (“olhe para os dois lados”) e não dar trela a estranhos.
Não conheci a famosa “concha acústica” pois já havia sido demolida, no entanto, na época, a Praça Castelo Branco possuía dois postes muito altos (7 ou 8 metros talvez?), com refletores enormes. Até hoje não sei muito bem qual era a utilidade daquilo, mas, era diferente. Tinha também uma caixa com um aparelho de televisão dentro, permitindo aos que não possuíam a inovação tecnológica acompanhar as novelas retransmitidas pela TV Coroados com atraso quase mensal, além, é claro, dos jogos de futebol.
Na praça havia dois tanques que sustentavam, em seu centro, fontes que, realçadas por luzes, faziam o espetáculo noturno. No interior dos tanques nadavam peixes coloridos, aos quais as crianças atiravam pipocas, miolo de pão e tudo o que tivessem à mão para ver se os peixes comiam. Existiam ainda dois viveiros. Um era habitado por gralhas azuis, periquitos, araras, pombos coleira, coleirinhas e outros seres emplumados. O segundo era moradia de coelhos, porquinhos-da-índia e, pasmem, uma paca. Inconcebível nos dias de hoje esta convivência em espaço tão reduzido como eram o dos viveiros, mas naqueles tempos... . Na verdade da paca conheci apenas o dorso, uma vez que, por ter hábitos noturnos, ficava o dia todo deitada em sua pequena casinha deixando a mostra apenas esta parte do corpo.
Foi neste ambiente que tive o primeiro contato com a estátua do guerreiro “Roland”, a qual ocupa espaço privativo no conjunto formado pela Praça Castelo Branco e adjacências. Já o conhecia dos livros que reproduziam a imagem de sua “sósia” (na verdade a original) em Bremen. Vendo-a de perto pela primeira vez, tive a impressão de que a imagem sorria o sorriso dos livres e justos que representa, como a demonstrar satisfação pela cidade que via crescer a sua frente.
No domingo passado revisitei o local. A primeira impressão não permaneceu. Pareceu-me triste o olhar do guerreiro. Estaria ele insatisfeito com o que vê ou será que, como num espelho, reflete a insatisfação do cidadão crente de que sua terra poderia estar bem melhor?

* Horácio Negrão é ex-vereador e advogado em Rolândia-Pr.